História: Um concerto diferente

A manhã começou como todas as outras… barulhenta, com uma mistura de vozes entusiasmadas. Ao longe ouviu-se o toque da campainha da escola que anunciava o início das aulas.

Hoje não estávamos preocupados com este toque, queríamos ouvir o roncar do autocarro que nos levaria ao concerto!

A viagem começou, entre cochichos e gritos lá ouvimos o rom rom do motor a afastar-se da escola.Já tínhamos feito alguns quilómetros quando de repente o autocarro soluçou, chiou e finalmente parou… uma avaria!

A manhã começou como todas as outras… barulhenta, com uma mistura de vozes entusiasmadas. Ao longe ouviu-se o toque da campainha da escola que anunciava o início das aulas. Hoje não estávamos preocupados com este toque, queríamos ouvir o roncar do autocarro que nos levaria ao concerto!

A viagem começou, entre cochichos e gritos lá ouvimos o rom rom do motor a afastar-se da escola. Já tínhamos feito alguns quilómetros quando de repente o autocarro soluçou, chiou e finalmente parou… uma avaria!

Paramos numa casa antiga que estava abandonada. Que chatices só nos viriam socorrer dali a algumas horas… A Katarina dava estalinhos com os dedos por causa do nervosismo, o Flávio fazia “tique- taque” com a caneta ao bater no caderno de apontamentos e a Márcia “shrrac…” com o velcro da bolsa do telemóvel.

De repente tive uma ideia, comecei a imitar o som dos estalinhos com duas vassouras velhas, a panela ferrugenta a bater numa pedra e o ranger da porta de entrada foram outros dos instrumentos improvisados que os meus colegas usaram!

Pouco a pouco, cada um de nós estava a fazer um som, quer com o corpo, quer com os objectos que fomos encontrando na natureza e na casa abandonada.

E eis que de repente nós mesmo estávamos a fazer um concerto e muito divertido por sinal!

A nossa estadia na casa abandonada teve de se prolongar dada a falta de rede nos telemóveis. O Motorista teve de ir a pé até à vila mais próxima! Resultado ia demorar!

Caiu a noite e trouxe com ela muitos sons diferentes dos que se ouviam durante o dia, o vento a soprar nas folhas de mansinho fazia “vu..vu..”, alguns bichos nocturnos saiam dos seus esconderijos e também produziam sons… mas o som que mais me cativava era o crepitar do fogo, saído da fogueira que entretanto acendemos. De repente o Baltasar quebrou o silencio com uma musica que falava de meninos à volta da fogueira, o Flávio decidiu acompanha-lo com um “tse…tse..” feito com a língua, a Bruna com palmas, a Márcia com o barulhinho de um saco de plástico… estávamos novamente a fazer sons… ou melhor tentávamos fazer um acompanhamento para aquela musica que o Baltasar trauteava…

Decidi dar uma volta pela casa… já no andar de cima no que me parecia ser um sótão, estava uma arca de madeira muito velha (era quase igual à que a minha avó usa para guardar o milho), aproximei-me curioso… será que lá dentro estava um tesouro?… O mais provável é que estivesse vazia. Cheio de curiosidade, abri a arca velha, e depois de vários espirros que chamaram a atenção dos meus amigos, olhei para dentro da arca e vi que afinal estava lá dentro um grande tesouro.

Não eram barras de ouro, mas eram um tesouro muito valioso, a arca estava cheia de livros! E ainda por cima livros sobre musica! Quem quer que tenha vivido nesta casa, também gostava desta arte. Muito interessante.

Peguei num livro falava sobre a música na Grécia, dizia que os gregos recitavam poesia ao som da lira. Os instrumentos musicais destes povos eram a citaram a lira e o aulos (um instrumento de sopro).

Acrescentava ainda que os gregos atribuíam aos deuses a sua música, definindo-a como uma criação integral do espírito, um meio de alcançar a perfeição. Acrescentava ainda que o seu sistema musical apoiava-se numa escala elementar de quatro sons – o Tetracorde. O canto prendia-se a uma melodia simples, a Monodia.

Era mesmo muito interessante este livro. De repente estávamos todos a desfolhar os fantásticos livros que estavam na arca.

A Katarina abriu um outro que falava sobre a música em Roma. Que interessante, os romanos tinham instrumentos de todos os principais géneros: sopro, cordas e percussão.

(Havia desenhos de vários exemplares, nos instrumentos de sopro havia a Bucina e cornu, grandes e delgados tubos de bronze em forma da letra G. A Tuba, não era como tubas que conhecemos hoje, mas possuía um longo tubo cilíndrico de bronze com um final que se abria de súbito em uma forma de sino, semelhante ao trompete.

A Tibia era uma versão latina do aulos grego, usualmente duplo, com palheta e um bocal único para manter o início dos dois tubos juntos na boca do músico. Reconstruções modernas indicam que produzia um som baixo, como o do clarinete. Os romanos tinham gaitas de foles, chamavam-lhes Ascaulephusale e utriculium e Flautas e flautas de Pã, semelhantes às que existem hoje em dia.)

Estávamos todos entusiasmados com tais descobertas e ansiávamos por saber mais coisas…

O meu estômago também fez musica… mas não era agradável, era um daqueles sons que deixavam toda a gente embaraçada, fome! Felizmente estávamos entre amigos, e as gargalhadas sucederam-se provocando um som estridente e bastante agradável.

Começávamos a ficar preocupados… o que iríamos comer? Os nossos lanches já se tinham ido à muito. Saímos para o exterior e decidimos ir à procura… os nossos pés faziam barulhinhos engraçados ao pisar as folhas secas e os ramos que estavam pelo chão. Ouviam-se pássaros, grilos talvez ratos… de repente ouvimos um “uau” bem este não era propriamente vindo da natureza mas era o som de alguma coisa boa… o Flávio tinha encontrado um pomar, fome não iríamos passar, ameixas as minhas preferidas e tantas, as maçãs ainda que rabicas (quer dizer sem tratamento, pequenas e feias) eram deliciosas e as tangerinas então…

Depois de mais um repasto e muitas brincadeiras à mistura com a música das dentadas do mastigar e do engolir deitamo-nos no chão de barriga para o ar a ouvir o silêncio, o nosso claro, porque aquele pomar estava recheado de sons de vários pássaros que não conseguíamos identificar, lembrei-me do meu avô Fernando e consegui perceber o som do melro e da Rola brava. O meu avô havia de gostar deste sítio, muita fruta e muitos pássaros, coisas que ele adora!

Eis que de repente, algo interrompeu a nossa soneca… um grito do Baltasar ! Encontrou qualquer coisa… mas eu ainda estava ensonado e não conseguia perceber o quê!

Tem aqui um lago espectacular! Gritava ele podemos tomar banho… Despertamos num instante… O lago era lindo, ouvia-se o barulho da água de mansinho quando passava nas pedras. Atiramo-nos à água todos entre gritos e gargalhadas….

Quando voltamos para casa, a Katarina estava instalada a ler um livro saído do baú que tínhamos encontrado…. Falava sobre a época trovadoresca, e ela partilhou connosco algumas informações interessantes…

Podemos dizer que o trovadorismo foi a primeira manifestação literária da língua portuguesa. Surgiu no século XII, em plena Idade Média. O marco inicial do Trovadorismo é a “Cantiga da Ribeirinha” (conhecida também como “Cantiga da Garvaia”), escrita por Paio Soares de Taveirós no ano de 1189.

Na lírica medieval, os trovadores eram os artistas de origem nobre, que compunham e cantavam, com o acompanhamento de instrumentos musicais, as cantigas (poesias cantadas). Estas cantigas eram manuscritas e reunidas em livros, conhecidos como Cancioneiros. Temos conhecimento de apenas três Cancioneiros. São eles: “Cancioneiro da Biblioteca”, “Cancioneiro da Ajuda” e o “cancioneiro da vaticana”.

Os trovadores de maior destaque na lírica galego-portuguesa são: Dom Duarte, Dom Dinis, Paio Soares de Taveirós, João Garcia de Guilhade, Aires Nunes e Meendinho.

No trovadorismo galego-português, as cantigas são divididas em: Satíricas (Cantigas de Maldizer e Cantigas de Escárnio) e Líricas (Cantigas de Amor e Cantigas de Amigo).

Cantigas de Maldizer: através delas, os trovadores faziam sátiras directas, chegando muitas vezes a agressões verbais. Em algumas situações eram utilizados palavrões. O nome da pessoa satirizada podia aparecer explicitamente na cantiga ou não.

Cantigas de Escárnio: nestas cantigas o nome da pessoa satirizada não aparecia. As sátiras eram feitas de forma indireta, utilizando-se de duplos sentidos.

Cantigas de Amor: neste tipo de cantiga o trovador destaca todas as qualidades da mulher amada, colocando-se numa posição inferior (de vassalo) a ela. O tema mais comum é o amor não correspondido.

Cantigas de Amigo: enquanto nas Cantigas de Amor o eu-lírico é um homem, nas de Amigo é uma mulher (embora os escritores fossem homens). A palavra amigo nestas cantigas tem o significado de namorado. O tema principal é a lamentação da mulher pela falta do amado.

Esta partilha de conhecimentos foi interrompida pela professora Regina…

A professora deu-nos uma tarefa para ficarmos ocupados… procurar na casa ou na rua objectos que pudessem fazer um instrumento musical que tocasse uma escala!

Eu procurei e de repente tive uma ideia… vou fazer um xilofone com estas ripas de madeira e este pau… mãos à obra e depois de várias tentativas e erros… o meu xilofone estava pronto!

O meu amigo Flávio arranjou uma flauta pequena que fazia som  e a professora pediu para ele tentar fazer uma escala,  o Baltasar arranjou  uma guitarra feita com um pau de madeira e uns arames fininhos.

Depois dos instrumentos prontos, só faltavam que eles tocassem uma escala…a professora pediu para que treinássemos com os instrumentos para ver se conseguíamos fazer uma escala.

O meu xilofone não dava uma escala, a professora disse que era bom para usar como instrumento de percussão. O Flávio levou um apito mas não conseguia fazer bem uma escala… A Márcia e a Bruna encheram copos com água e quase conseguiram fazer a escala, a professora disse para tentarem com copos maiores para ver se saía melhor a escala.

Para que não andássemos sem fazer nada a professora pediu-nos para procurarmos no baú livros que falassem sobre o humanismo… eis o que encontrei:

O humanismo surge durante um período de transições: da idade média para o renascimento, do Feudalismo para o Mercantilismo, do teocentrismo (é a teoria segundo a qual Deus é o centro do universo, tudo foi criado por Ele e por Ele é dirigido) para o antropocentrismo (o homem é o centro do universo).

Os primeiros a serem chamados Humanistas foram os estudiosos que encontravam textos em Latim e em Grego, sendo um humanista um simples professor de Latim; os studia humanitatis, que estudavam filologia, gramática, retórica, línguas, literaturas.

O humanismo é, antes de mais, o descobrimento da Antiguidade sob os seus múltiplos aspectos: literatura, arte, filosofia, ciência, história. Caracteriza-se pelo estudo directo dos textos, pelo desejo de cada se cultivar. O humanismo é pois, o conjunto de esforços no sentido de ressuscitar a Antiguidade Clássica.

As principais características do humanismo prendem-se culturalmente com, a melhoria técnica da imprensa que propiciou uma divulgação mais ampla e rápida do livro, democratizando um pouco o acesso a ele. O homem desse período passa a interessar-se mais pelo saber, convivendo com a palavra escrita. Adquire novas ideias e outras culturas como a greco – latina .

Mas, sobretudo, o homem percebe-se capaz, importante e agente. Acreditando-se dotado de “livre arbítrio”, isto é, capacidade de decisão sobre a própria vida, não mais determinada por Deus, afasta-se do teocentrismo, assumindo, lentamente , um comportamento baseado no antropocentrismo. Isto implica profundas transformações culturais. De uma postura religiosa e mística, o homem passa gradativamente a uma posição racionalista

As origens do humanismo português são, tal como no resto da Europa, predominantemente italianas. Decerto numerosos portugueses haviam frequentado alguns dos importantes centros universitários estrangeiros, mas serão aqueles que no último quartel do século se matriculam nas universidades italianas que lançarão os alicerces do humanismo português – Henrique Caiado, Aires Barbosa, Martinho de Figueiredo.

O período áureo do humanismo português coincide com meados do século XVI, quando a maior parte dos bolseiros volta ao país e ocupará os mais altos cargos na Universidade, nos colégios e mosteiros e na administração metropolitana ou ultramarina. Coimbra foi então o principal centro de humanismo.

Depois desta tarefa concluída, estávamos mais uma vez sem ter nada para fazer… até que a Katarina teve uma ideia…

– E se jogássemos o “jogo do esqueleto no armário” conhecem? Eu explico.

Então é assim juntamo-nos em circulo e depois cada um conta uma história sobre alguma coisa de que tenha muito medo! Ou também podemos contar algum segredo “horripilante” de alguém.

Rodamos uma garrafa para ver quem era o primeiro e mais uma vez com a luz da fogueira por companhia, lá começaram as histórias… eu fui o primeiro. Contei a história da casa assombrada, que por acaso agora é do meu tio Simão e de assombrada não tem nada. É uma casa grande que fica num alto rodeada de árvores muito altas, antes de o meu tio a comprar morava lá um casal de velhotes… a Sr.ª a Dona Berta foi professora da minha mãe já era velhinha nessa altura. A casa era como os donos, muito velha e diziam que era habitada por fantasmas e aranhas gigantes… O que é certo é que quando o casal de idosos morreu aquela casa já a cair de velha, via-se ao longe numa noite escura com as arvores a abanarem e era mesmo assustadora. O meu Tio Leonel que não acreditava em fantasma foi lá um dia à noite dar uma volta, mas diz que as janelas começaram a bater sozinhas e que alguma coisa peluda lhe passou pela mão… ele saiu de lá a correr. Eu que não gosto nada de aranhas… a primeira vez que ouvi esta história morri de medo! Mas o meu tio lá se riu e disse que só me queria assustar não havia nada na casa de sobrenatural, só o vento a abanar as janelas velhas que faziam um ranger infernal….

Agora eu sei que não existe, o meu tio Simão reconstruiu a casa, e os jardins e casa até tem uma piscina, gosto mais de ir para lá, quando era mais novo… as aranhas e os fantasmas metiam-me muito medo!

E com este jogo continuamos a nossa noite, ouvindo histórias antigas e descobrindo o medo dos nossos amigos, medos que partilhados parecem desaparecer…

A nossa viagem finalmente chegou ao fim… estava na hora de voltarmos a casa. Olhando para trás pensei em tudo o que tínhamos vivido, definitivamente este passeio ensinou-nos muitas coisas… nesta casa abandonada encontramos verdadeiros tesouros, amizades fortalecidas, livros antigos… mas acima de tudo aprendemos que uma coisa nos une… a musica.

Não podíamos por isso, ir embora sem antes deixar uma marca neste sítio maravilhoso. O Baltasar pareceu ler os meus pensamentos quando disse:

-Malta, não podemos ir embora sem fazer uma grande festa… melhor um espectáculo.

E assim foi, fomos à aldeia vizinha e convidamos toda a gente para assistir a um concerto.

Com os instrumentos criados por nós, ensaiamos canções e depois de vários ensaios e muitas dores de cabeça (principalmente para a professora) chegou o grande dia. Demos um concerto! Fizemos uma festa e demos uma noite diferente aos habitantes daquela pequena aldeia que estavam deliciados com a nossa música.

Não conseguimos assistir ao concerto pelo qual tínhamos saído em viagem, mas demos um concerto fantástico… pelo menos foi o que disse a professora que nos acompanhou!

E eu acredito nela!

Fernando Magalhães
(aluno premiado no âmbito da disciplina de área de projecto do 3º grau)