Entrevista ao maestro Paulo Martins

Aos 44 anos, Paulo Martins tem vindo a distinguir-se em Portugal como um dos mais ativos maestros da sua geração.
Foi premiado em diversos concursos, nomeadamente «Juventude Musical Portuguesa», «Jovens Talentos dos CTT», «Concurso do Conservatório de Música do Porto», e «Concuro de Jovens dos Distritos de Coimbra e Aveiro». Atualmente é diretor artístico do «Concurso Internacional Filarmonia D Ouro» e professor no Conservatório de Música do Porto e no Conservatório de Música de Aveiro de Calouste Gulbenkian, Diretor Artístico da Orquestra e Banda Sinfónica de Jovens do Concelho de Santa Maria da Feira, da Associação Recreativa e Recreativa Amigos da Branca.

É a segunda vez que orienta o Estágio Orquestra de Sopros, uma iniciativa promovida pela Academia de Música de Oliveira de Azeméis.

AMOA: Como é que começou a interessar-se pela direção de Orquestra?
Paulo Martins: Isto começou há 25 anos, sensivelmente, com um pequeno Grupo de Música de Câmara que eu organizei em Castelo de Paiva, quando comecei a dar aulas desde muito jovem. Entretanto, esse pequeno grupo foi-se transformando em algo maior até se tornar uma orquestra. Depois apareceram outros projetos e a certa altura comecei a perceber que não poderia ser algo que fizesse esporadicamente e de uma forma autodidata ou empírica e comecei a investir neste mundo da direção e sempre a evoluir, até hoje.

AMOA: Quais são os princípios que estão na base do seu trabalho?

PM: Neste tipo de trabalho é muito importante a questão da programação e daquilo que se faz em casa, ou seja, aquilo que não se vê.
É preciso refletir em vários fatores sobretudo ao nível do timing: quanto tempo temos para trabalhar e, sobretudo, ter uma noção mínima do grupo que temos à frente e, claro, pensar em todos estes ingredientes e adicionar uma grande dose de motivação, nomeadamente com reportórios aliciantes para que os músicos se sintam motivados para responder àquilo que é proposto.

AMOA: Quais as maiores dificuldades deste ofício?
PM: A maior dificuldade é nunca saber o que é que nos espera. Há muita subjetividade na forma como trabalhamos porque o nosso trabalho não depende de nós, depende muito das pessoas com quem trabalhamos, do sitio onde trabalhamos e mais uma vez com que timings o fazemos.
Duas semanas para fazer este programa é diferente do que ter quatro dias. O tipo de exigência que vamos impor é diferente. Há coisas que se conseguem com mais perfeição, outras com menos perfeição, tudo de acordo com o tempo que temos. Por isso o mais difícil mesmo é ser assertivo em todos os aspetos e em todas as valências!

AMOA: E a maior compensação?
PM: A compensação é sempre o cumprir de objetivos que vamos traçando. Primeiro eu gosto de traçar objetivos gerais e mais alargados e depois fazer uma análise momentânea daquilo que está a acontecer e impor objetivos curtos, ou seja, a cada hora de ensaio que passa termos um objetivo novo e quando temos resultados essa é a compensação.
No final, a recompensa do concerto é o culminar da mistura dos ingredientes todos … e o aplauso do público, certamente.

AMOA: Qual a importância deste género de Estágios para as escolas e em particular este III Estágio?
PM: São fundamentais porque nos obrigam a trabalhar num curto espaço de tempo, o que muitas vezes estão acima do nível deles! Obriga-os a ter momentos de concentração muito grandes durante vários dias; dá-lhes a oportunidade de trabalhar outro tipo de reportórios; dá-lhes a oportunidade de ouvir a mensagem que muitas vezes é transmitida no dia-a-dia, mas por uma pessoa diferente, e quando a mensagem é dita de outra forma, mas com o mesmo objetivo, se calhar a predisposição para ouvir é diferente também.
Por outro lado, é importante que a escola crie dinâmicas e crie a questão da disciplina para os alunos se habituarem a estar em palco, se habituarem a saber-estar a saber ouvir, perceber o que é que podem evoluir e o que é que não podem.
Por isso mesmo, estes estágios são fundamentais no percurso de uma escola que quer evoluir e espero realmente que tenham continuidade.

AMOA: Já é a segunda vez que participa neste estágio… sente evolução os executantes, visto que muitos também cá estão pela segunda vez?
PM: A nível individual não é tão fácil perceber isso. No entanto, o nível etário é ligeiramente mais baixo, este ano, comparativamente com o ano passado.
O que eu sinto é que os alunos já começam a ganhar uma das valências mais importantes: respondem mais rapidamente. Já conseguem moldar-se um pouco mais àquilo que lhe é pedido e isso é o resulta do trabalho que se faz no dia-a-dia, mas também daquilo que eles começam a ter como experiências. Porque uma coisa é pisar o palco uma vez, outra coisa pisar dez vezes, no mesmo ano, e por aí fora. Há processos que se vão assimilando e a evolução é lenta.
As pessoas não podem pensar que de um ano para o outro a evolução é enorme porque não é.